Raízes - Ana Margarida de Carvalho
Não me murmures mais consolos
2016-11-16 00:00:00
Não me murmures mais consolos,
Dispenso os teus alívios, feitos de lenços
amolecidos de prantos áridos.
Não lamentes as minhas unhas estaladas de verniz,
lilás.
Escusas de juntar as tuas palmas de cortesia às minhas costas,
no momento de entrar no elevador,
monta-cargas.
Fui eu que acordei com esta ideia fixa,
ensimesmada,
de que havia anástrofe para além da sintaxe.
E como um verbo impertinente antes do sujeito,
pus-me a andar com o bispo em linha recta.
E a fazer saltar cavalos para fora do tabuleiro.
E às rainhas cortei-lhes as cabeças.
De que me vale agora tua comiseração
molhada.
E a tua lástima de solidariedade
apiedada.
Quando os teus dedos,
em pinça,
dão xeque-mate
ao meu peão,
derramado.
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