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Meu Fruto De Morder. Todas As Horas

Al Berto

1980

Extras

Excerto

 (...)numa mancha de gasolina preparamos o fogo. um pássaro esvoaça sobre o mar e as últimas silhuetas da noite sentam-se na fogueira dos corpos.

plantas trepam pelas tábuas do humilde abrigo. O telhado de colmo protege-nos da humidade e do peso da noite.

observamos as flores nocturnas. aquelas que expandem pétalas e aromas ao entardecer. o fogo extingue-se. por dentro das areias ainda quentes despertam animais etéreos. colam-se às paredes. circulam pelo interior de nossos corpos acesos. falam-nos durante as horas perdidas da noite.

corpos ocos escondem-se nos silenciosos recantos do parque. ouvimos vozes e o ruído assustador das estrelas cadentes. crepitam a madeira e o canto das cigarras em cio.

fumamos.

torna-se nítida a geometria das borboletas em contraluz. as lâminas em câmara lenta. os objectos da viagem respiram. texturas pesos volume de corpos. espaço dum corpo navegando pelo interior doutro corpo. tocamos o olho enrugado do ânus. o sangue. a cremalheira dos sexos. as salivas as línguas os dedos duros e lentos perfurando a memória.

o sumo dum fruto coagula nas mãos. o suor dos corpos abandonados ao sal cintila. caminhamos há anos procurando os alimentos que precisamos e a sede. a cor que se sobrepõe a cada um destes dias.

não temos nome. dormimos no mesmo leito de algas sabiamente tecidas, somos a matéria envenenada da noite e o cuspo dos sexos. a água no incêndio nómada dos corpos. e a escrita(...)

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