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Poema e Poesia de Fernando Pessoa

Mundo
Fernando Pessoa

Abdicação

Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços 
E chama-me teu filho. 
Eu sou um rei 
que voluntariamente abandonei 
O meu trono de sonhos e cansaços. 

Minha espada, pesada a braços lassos, 
Em mão viris e calmas entreguei; 
E meu cetro e coroa — eu os deixei 
Na antecâmara, feitos em pedaços 

Minha cota de malha, tão inútil, 
Minhas esporas de um tinir tão fútil, 
Deixei-as pela fria escadaria. 

Despi a realeza, corpo e alma, 
E regressei à noite antiga e calma 
Como a paisagem ao morrer do dia. 

em "Cancioneiro"

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