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Raízes - Deana Barroqueiro


Rascunhos Secreto (Prólogo)

2024-01-19 10:22:44

 

Rascunhos Secreto

Prólogo

Perdoai não vos declarar meu nome, mas, nos tempos que correm, falar verdade ou apontar vícios aos poderosos pode ser assaz perigoso, e eu, que andei pelas Índias, dei a volta ao mundo com Fernão de Magalhães e sobrevivi, não quero ser achado, uma destas noites, num beco esconso, com as goelas cortadas, em Lisboa ou em Sevilha, Deus me guarde e salve…

Alguns casos que aqui vos conto já foram narrados por muitos cronistas e poetas do reino, embora de modo a engrandecerem seus reis e heróis, esquecendo ou escondendo as partes mais sombrias e sangrentas dessas histórias, que esvoaçavam na corte em murmúrios e registos secretos, permitindo a um ouvido atento conhecê-las com todas as minudências ou, pelo menos, em parte, às mais tenebrosas. Se os cronistas largassem de si toda a lisonja e seguissem somente o rigoroso caminho da verdade, pudera mui bem ser que as desordens do reino estivessem já remediadas, com grande serviço de Deus e proveito da pátria; porém, cada um dá à realidade seus matizes e sentidos, exagerando, incitando, aniquilando ou divertindo, segundo lhe dita a paixão. Foram sucessos tão perigosos que, se estes escritos caíssem sob o olhar de invejosos e ressabiados, uma denúncia abastaria para me condenar às galés ou à degola, mesmo agora, quando estou homiziado em Sevilha e já não reina em Portugal el-rei D. Manuel I, mas seu filho D. João III, que, segundo consta na falazeira da corte, tem mostrado mais boa-vontade aos inimigos do que aos amigos de seu pai... por muitas e boas razões, como lereis nestes rascunhos.

 

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