Sinopse
Novo romance de Alexandra Lucas Coelho: uma ruptura com o cânone, num romance surpreendente, que oscila entre a ironia e a fúria, a vingança e o sexo. Uma mulher está decidida a matar um homem, entre a sua casa no Alentejo e as idas a Lisboa, ao domingo. Durante um mês, entre 16 de Junho e 16 de Julho de 2014, acompanhamos os planos de tortura, o livro que ela decide escrever e os vários cúmplices: amantes, amigos, vivos e mortos. O alvo da vingança é um caubói, mais frequentemente nomeado como cabrão ou )lho da puta, porque ela é uma tripeira do Canidelo. «Eu e o mecânico: onças numa clareira, passos em volta, pêlo hirto. Ou o ar dentro de um balão. Há que chegar ao ponto em que o corpo estoura no ar. Ofereci-lhe um café, sentámo-nos na varanda. Ele contou que vai à o)cina domingo de manhã porque a mulher trabalha numa igreja, só volta às duas, deixa o almocinho feito. Têm uma boa vida, moram numa urbanização na Bobadela, ela é uma santa e gosta de sexo. Com a mãe do )lho também se entende bem mas ela mora na Coina porque faz tortas de Azeitão, dálhe mais jeito. E por aí fora até aos castanheiros do avô no Rebordelo. Onde )ca isso?, perguntei. Em Trás-os- Montes, respondeu. Ah, adoro Trás-os-Montes, disse eu, no tom daquelas pessoas que dizem que adoram Fernando Pessoa. (…)Por cada pergunta um buraco, por cada buraco cem perguntas, estou habituada. Claro que quanto menos soubermos menos pensamos, e neste caso tratava-se de não pensar nada, mas esse é o ponto em que o corpo faz tudo, e eu ainda não tinha chegado lá. Aliás, a certa altura comecei a andar para trás, duas, quatro, oito vezes mais rápido do que o )lme andara para a frente. Eu tinha mesmo engatado o mecânico que arranjara o meu carro, ex-marido de uma pasteleira da Coina, agora casado com uma santa? Tinha mesmo comprado uma caixa de 12 (doze) preservativos para foder com ele? Íamos mesmo para a cama, e antes das duas da tarde?»