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Folheando com... Cristina Norton


Um bom desafio

2006-08-04

Cristina Norton e o seu A casa do sal em entrevista ao Portal da Literatura - a história de um homem sozinho num lugar isolado.

 Entrevista a Cristina Norton no âmbito do seu romance "A casa de sal".

A Casa do Sal é um romance que nos faz lembrar que é possível amar uma vida inteira. Tendo personagens tão reais, atrevemo-nos a perguntar-lhe se há uma parte verídica na história.

Há poucos dias, numa sessão com o clube de leitura da biblioteca de Lagoa, perguntaram-me quem me tinha contado a vida de Mário e Irene. Ter conseguido transmitir uma história totalmente inventada, de forma que os leitores pensem que aconteceu mesmo é para mim um grande elogio. Quer dizer que consegui, ao fim de dois anos de trabalho e na terceira versão do romance, dar veracidade às personagens e às situações que eles atravessam.


Como é que surgem personagens como Mário, Irene, Fininho e Alberto?

Pensei que seria um bom desafio para mim, escrever um romance onde a personagem principal fosse um homem que estivesse sozinho num lugar isolado. As outras personagens apareceram para justificar a espera e o que pode surgir quando abrimos o baú das más recordações e aparecem os fantasmas do passado para nos infernizar a vida.
Gosto de me pôr na pele das pessoas que invento. O que não imaginei quando comecei a escrever o livro é que ia acabar por me transformar em caruncho durante alguns dias.

 

O caruncho da dúvida permanece quase até ao fim. Até que ponto o caruncho povoa também, no dia-a-dia, a cabeça da autora?

Só o caruncho da imaginação é que enche a minha cabeça de imagens e de situações que tenho de contar, escrevendo, para recuperar o sossego. Mal comparado, dada a diferença de proporções, Beethoven dizia que quando passeava pela floresta sentia que as melodias se iam formando na sua mente e que até ao momento de escrever a partitura as notas lhe martelavam a cabeça.


Dos livros que já escreveu de qual guarda melhor recordação. Porquê?

Gostei de escrever todos os livros e cada um deles ocupou um espaço importante da minha vida. Há capítulos que me emocionaram mais do que outros ou que visualizei com mais intensidade. Esses são os meus preferidos, mas há vários em cada livro. A título de exemplo posso dizer que no Afinador de Pianos a morte de Benjamin, a cegueira da costureira, a italiana que comia demasiado, o fuzilamento de uma republicana; no Lázaro do Porto a chegada da mãe ao hospital quando lava o filho que julgava morto, ou João da Foz a seduzir a boticária com o tom das suas leituras; no Segredo da Bastarda o momento em que D. João VI obriga Eugénia de Menezes a ter relações com ele, as lições da senhorita Felícia quando ensina a escrever a Eugénia menina, a descrição das saudades de Eugénia quando regressa a Portugal, e do Brasil só lhe restam as cores de uma tapeçaria; em A Casa do Sal o namoro de Alberto, a carta que Lídia escreve ao jornal, a cena onde Mário descobre uma verdade que estava bem longe de imaginar… E muitas outras, que me fizeram rir ou chorar de emoção enquanto as escrevia.


A Casa do Sal é também a história de pessoas, de aventuras juvenis, de histórias antigas, do choque de gerações, das marcas da guerra colonial, de temas multifacetados que nos mostram que a vida deveria estar sempre em primeiro lugar e que é possível viver feliz sem grandes bens materiais. Como será o quotidiano de quem escreve desta forma? 

Desgraçadamente não vivo ao pé do mar nem em Tavira, mas continuo a extasiar-me frente a um pôr-do-sol como se o visse pela primeira vez e uma música me faz dançar ainda que esteja no meio de um hipermercado, porque os seres e as coisas mexem comigo. Acredito que quem não sabe encontrar a felicidade nas pequenas coisas tampouco a vai encontrar nas grandes.


A pergunta que normalmente interessa aos seus leitores. Que projectos vêm a seguir?

Já comecei a escrever outro romance, do qual não posso revelar nem o tema nem o título, que deverá ser publicado em 2008 pela D.Quixote que é agora a minha editora. Neste momento as personagens estão de férias enquanto estou a promover A Casa do Sal, depois entro no “defeso” e não estou para ninguém até acabar o livro. Mas vou continuar a colaborar com a revista Psicologia Actual, que é um projecto muito interessante, fazendo entrevistas a escritores e às vezes a casais, como foi o caso do último número em que entrevistei José Eduardo Agualusa e a mulher, Noelma Viegas D’Abreu, que é psicóloga.

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