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Chico Buarque vence prémio PT

10 Nov, 2010

Chico Buarque venceu  8.ª edição do Prémio PT, a primeira desde a entrada na Oi. A sessão ficou marcada pela retirada do concurso do romance 'Caim', de José Saramago. O quarto romance do cantautor, 'Leite Derramado', foi uma 'bomba' nas mãos do júri reunido em São Paulo, a braços com uma explosão mediática - e de talento - de um escritor também incontornável.

O facto de a apresentação da sessão final do Prémio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa estar a cargo do humorista Jô Soares já prometia surpresas, mas quando Chico Buarque se sentou sorrateiramente na primeira fila a principal curiosidade esvaziou-se imediatamente. Afinal, o escritor/cantor só estaria ali se fosse o vencedor do Prémio PT.

Mesmo que a maior parte dos presentes não tivesse reparado na sua entrada discreta, os finalistas do prémio mais atentos aos "rivais"sentiram que os 100 mil reais [cerca de 50 mil euros] do primeiro lugar já tinham destinatário e que lhes restava a glória de conquistarem o segundo ou terceiro lugar. Numa semana, os olhinhos de tonalidade azul indefinida que seduzem ambos os sexos embolsaram o mais respeitado prémio literário do Brasil, o Jabuti, e aquele que pretende ser também uma referência primeira, o da PT.

O júri, habituado a discutir principalmente o talento, a novidade e o experimentalismo literário, foi colocado perante um nome que, tal como o de José Saramago, se se tivesse mantido na lista a concurso, se tornou incontornável na decisão final. A reunião decorreu na manhã de terça-feira e, na véspera, foi fácil entender que tinham uma bomba entre mãos e uma decisão a tomar que tanto poderia ser considerada justa como uma cedência a valores mais mediáticos.

O segundo colocado, Rodrigo Lacerda, confessara horas antes que estava um pouco desiludido com a situação repetida já por quatro vezes de perder primeiros lugares nos cinco prémios a que o seu livro Outra Vida fora candidato. De prémio em prémio, vira esfumar-se essa glória literária - a última vez fora no Jabuti - e quando subiu ao palco esta terça-feira à noite a expressão do rosto mostrava a duplicidade dos sentimentos de alegria e tristeza. Um pouco como os flashbacks que utilizou no seu livro para explicar a indecisão do casal protagonista em regressar à terra natal após cinco anos a viver na grande capital industrial do Brasil.

O amor-próprio dos escritores, no entanto, não contava para os VIP da sociedade paulista presentes na sala e a vitória de Chico Buarque foi o melhor que lhes podia ter acontecido. Era mais uma noite com final feliz e a possibilidade de contar aos amigos que estiveram com o Chico. Um vencedor que, afinal, agradava a todos e até à hierarquia da PT, como o próprio CEO, Zeinal Bava, afirmou no final da cerimónia aos jornalistas: "Chico vai catapultar este prémio para outro patamar". Também destacou o papel da PT ao longo das oito edições do prémio, dizendo que ficou provada mais uma vez a sua "intervenção numa área muito importante, como a defesa da língua e da literatura portuguesas", sem se esquecer de apontar a alteração dos modos de leitura e que a virtualização dos livros vai directa ou indirectamente passar pela empresa portuguesa.

A conferência de imprensa do vencedor foi breve, 6 minutos e 54 segundos, mas mesmo assim considerada uma intervenção à Fidel Castro na boca de Chico Buarque, quando comparada com situações semelhantes. Já o mestre de cerimónias, Jô Soares, fez o contrário e prolongou até quase duas horas o tempo que o contrato lhe exigia. Leu as perguntas que lhe entregaram e fez muitas outras por vontade própria. Lembrou a ligação a Fernando Pessoa, relembrou os avós portugueses e um encontro em 1982 com José Saramago em Paris. Ficou com apetite quando a escritora Nelida Piñon referiu uma loja lisboeta que só vende sardinhas em conserva e coloca as latas como se fossem livros numa estante. Questionou a "injustiça" perpetrada pelos júris que só premiaram três dos quatro romances de Chico Buarque e recordou com o cantor o sucesso da música A Banda que, feitas as contas, marca há 45 anos a carreira do vencedor do Prémio PT. Chico Buarque também fez confissões e referiu que separa muito bem os tempos para a escrita e a música: "Quando escrevo, o violão está bem fechado no seu estojo". Entre muitos copos de água, confirmou que "só de subir ao palco [fica] com a garganta seca" e que a música é o seu maior prazer.

Para a história desta edição do Prémio PT fica ainda que o terceiro lugar foi para Armando Freitas Filho com Lar. Quanto a Ondjaki, Carlito de Azevedo, Bernardo Carvalho, Carlos de Brito e Mello, Bernardo Ajzenberg e Reinaldo Moraes, não encontraram lugar no trio de vencedores.

(in DN Artes)

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