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Folheando com... Patrícia Melo


Patrícia Melo

2009-11-30

Patrícia Melo é romancista, dramaturga e argumentista. Publicou Acqua Toffana (1994), O Matador (1995), O Elogio da Mentira (1998), Inferno (2000), Valsa Negra (2003), Mundo Perdido (2005) e Jonas, o Copromanta (2008).

Ganhou inúmeros prémios, sendo de destacar o Deux Océans e Deutsch Krimi, nomeação para o Prix Femina de romance estrangeiro, o Prémio Jabuti de Literatura pelo seu trabalho em Inferno, entre muitos outros. As suas obras estão traduzidas em Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Espanha, Holanda, Grécia, Finlândia e China, entre outros países. Tem também vasta obra como dramaturga e argumentista.


Tendo um percurso tão multifacetado – é romancista, dramaturga, argumentista, entre outras actividades – é caso para perguntar: em que papel se sente melhor, Patrícia Melo?

No papel de romancista e dramaturga. Como tal, sinto uma total liberdade. É quando sou totalmente fiel aos meus sonhos. O trabalho como roteirista tem como característica principal o fato de ser uma atividade essencialmente dialógica. É um trabalho de equipe. O autor não é dono da obra. Ele é uma espécie de cavalo, que o diretor e toda a equipe usa para se chegar a um lugar. Há que se preocupar com a produção, e com aspectos logísticos da realização. Nem sempre isso é agradável. Além disso, demora-se muito para levantar uma produção cinematográfica no Brasil. Às vezes, seis, sete anos. 

Na literatura e também no teatro, sou eu e mais nada. Isso é maravilhoso, e também assustador. É um risco, um mergulho, uma aventura. 

Com Jonas, o Copromanta, a Patrícia Melo foi buscar um arquivista que tem o dom de adivinhar o futuro através da análise das suas próprias fezes. A dada altura, surge o escritor Rubem Fonseca, seu grande amigo. Pode explicar ao Portal da Literatura como é que lhe surgiu esta ideia? Trocou ideias com Rubem Fonseca antes de começar a escrever o livro?

Eu queria falar sobre a relação do autor com seus personagens, e também da relação do leitor com o autor e com os personagens de uma obra. É comum a confusão entre todas estas figuras. O leitor acha que somos nossos personagens, que somos nossa própria literatura. É o que Philip Roth chama de síndrome de Zukerman. 

Jonas, o Copromanta também é um romance intertextual, no que diz respeito a obra de Rubem Fonseca. Desde que lancei meu primeiro fui rotulada de “Rubem Fonseca de saias”, rótulo que tomo como um elogio. Mas a verdade é que, embora eu admire imensamente Rubem Fonseca, minha literatura e a de Rubem são muito distintas. Temos dicções diversas, embora universos similares.
Em Jonas, eu brinco com tudo isso. Invento um homem miserável, com uma vida miserável que, apesar de tudo, não desiste de sonhar, que consegue sonhar a partir do nada, ou pior, de excrementos.
A literatura é um pouco isso. O sonho que nasce do nada. 

Falou-nos de Philip Roth, aquele que é para muitos um candidato ao Nobel da Literatura. Que livro destacaria deste escritor americano. Quer falar-nos de outros autores estrangeiros que verdadeiramente aprecie, Patrícia Melo?

O livro de P. Roth que mais gosto é Pastoral Americana. Na minha opinião, Roth, junto com Coetzee e Amoz Os formam uma tríade de excelência da literatura contemporânea. Cada um a seu modo trata das questões estruturais do mundo moderno: cultura, identidade e pertencimento.


A Língua Portuguesa, falada e escrita em Portugal e no Brasil vai ganhando especificidades e estilos próprios. Que semelhanças e diferenças vê entre a literatura de autores brasileiros e a literatura de autores portugueses? Quer destacar alguém?


Acho perigoso quando se tenta generalizar. É difícil até mesmo perceber semelhanças de estilos entre os autores brasileiros. O importante é que temos em comum um patrimônio imenso, a mesma língua, e isso já é muito. Houve um tempo, não muito distante, em que os brasileiros não liam os portugueses contemporâneos e vice-versa. Hoje, Mia Couto, Lobo Antunes, Miguel Sousa Tavares e Saramago são bastante conhecidos e apreciados pelo leitor brasileiro. Isso sim me parece uma grande conquista. 


Voltando atrás no tempo, como é que descobriu que tinha vocação para escrever? Houve algum escritor que a tivesse influenciado bastante?

Na verdade, naquela época, início da década de 90, eu estava muito desiludida com o trabalho de roteirista. Depois de Acqua Toffana não parei mais de escrever. E cada vez escrevo menos para cinema e televisão.

Celine, Dostoievsky e Camus, além de Rubem Fonseca e Machado de Assis, são os escritores que sempre carrego comigo, como referência de estilos, de narrativas, de composiçâo de personagens. Mas já não sou uma iniciante. Vou trilhando meu próprio caminho, não é verdade?  


Compartilha com alguém o que escreve? Podemos saber que livro vem a seguir? Quer deixar alguma mensagem aos leitores portugueses acerca do seu livro Jonas, o Copromanta?

 

Depois que o livro está pronto, meu marido e mais dois ou três amigos o lêem. Agora estou acabando um novo romance, sobre perversâo, que acontece no Mato Grosso do Sul. Uma história de maldade, num cenário de beleza paradisíaca. Devo lançá-lo no primeiro semestre do ano que vem. Ainda não tem título definido.

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