Folheando com... Joana Miranda
Joana Miranda
2010-10-29Nasceu em Coimbra, em 1967, é licenciada em Psicologia e autora de seis livros editados pela Presença. Falamos de Joana Miranda, a quem tivemos o prazer de entrevistar.
A Outra Metade da Laranja foi a primeira obra, e teve uma boa recepção por parte dos leitores. Trata-se de um romance em que Bárbara – de personalidade rebelde e sedenta de emoções –, parte à descoberta de si mesma. Não obstante tratar-se de uma personagem, até que ponto há traços de personalidade comuns entre a Joana Miranda e a figura central deste livro?
Penso que é sempre difícil escrever sobre personagens que não incluam partes de nós ou partes dos outros com que, de alguma forma, nos identificamos. Esta tendência, segundo alguns analistas, é particularmente acentuada nos primeiros romances dos autores. Barbara, como todas as personagens femininas que protagonizam os meus livros, não será excepção. Mas, se é verdade que existem alguns pontos de contacto entre a Barbara e a sua criadora (ambas, por exemplo, vivem a vida com muita intensidade), é verdade que são também muitos os pontos de distanciamento.
Os seus seis livros estão povoados por mulheres, são elas de uma maneira geral as personagens principais. Por algum motivo especial?
Não sei porquê. Aconteceu assim. Foram personagens de mulheres que surgiram na minha cabeça e me pediram para contar as suas histórias. Mas é curioso porque no sétimo romance (em preparação) apesar de serem quatro personagens centrais - dois homens e duas mulheres, na minha perspectiva a personagem “mais central” (se posso usar esta expressão) é uma personagem masculina e foi precisamente a partir da construção desta personagem que a história surgiu e se foi desenvolvendo. De qualquer forma, talvez seja mais fácil às escritoras mulheres escreverem sobre mulheres porque é um facto que existe um mundo feminino e um mundo masculino que, de certa forma, se desconhecem.
Creio poder dizer que há sempre um fio condutor comum nos seus romances, que é de resto um aspecto interessante. Concorda? O que é mais importante para si quando se propõe começar a escrever e quando por fim termina um livro?
Só começo a escrever quando surge uma história que mexe comigo, que me anima e me mobiliza. Quando isto acontece, ainda não sei o que sucederá e o final só surge mesmo no final, depois de toda a história contada. Por vezes não sei quando a história está terminada, não é fácil. Por vezes, em entrevistas, alguns pintores confessam esta mesma dificuldade em saber quando um quadro está terminado e eu sinto precisamente o mesmo em relação aos meus livros. Para terminar uma história tenho que me sentir apaziguada com o enredo, o que não quer dizer que os finais sejam sempre felizes porque não o são, nem em todos os meus livros nem na vida real. Um fio condutor comum? O que há de comum penso ser o facto de as personagens principais seguirem um percurso de auto-descoberta e de transformação interna, de, de alguma forma, todas elas se tornarem pessoas melhores.
Compartilha com alguém o que escreve?
O processo de criação literária é um acto solitário e de total isolamento. Apenas depois do texto terminado o dou a ler a algumas pessoas da minha família, nomeadamente à minha mãe, que é uma crítica implacável, e que faz uma primeira revisão de texto antes do envio para a editora. Por vezes, envio os primeiros capítulos a amigos especiais para lhes dar a conhecer um pouco da atmosfera do livro.
Já foi provavelmente contactada por pessoas que pretendem escrever. Que sugestões lhes fez?
Sim, muitas pessoas me contactam, umas com algum talento, outras nem tanto. Procuro não destruir os sonhos das pessoas até porque não tenho competência para avaliar o trabalho dos outros. Há muitas pessaos que escrevem e que sonham ser escritores. Em casos em que intuo algum talento, aconselho-os a contactarem editoras.
Mário Vargas Llosa ganhou recentemente o Nobel da Literatura. Conhece-o bem? Há algum livro de que goste particularmente? Porquê?
Conheço essencialmente a obra ficcional, não tanto a obra para teatro ou os ensaios. Do conjunto da primeira, destaco o livro “A Casa Verde”. Tal como por outros adjectivado, considero-o “arrebatador” e “luxuriante”. É nítida a influência de outro autor que é para mim uma referência incontornável: William Faulkner.
Viremo-nos agora para a literatura portuguesa. Vê nos escritores portugueses alguém com perfil de Nobel? Que autores lê com regularidade?
Leio muitos autores portugueses e só não leio mais porque tenho muito pouco tempo livre. Penso que há grandes autores portugueses contemporâneos: Lídia Jorge, José Luís Peixoto, Inês Pedrosa, Miguel Sousa Tavares e António Lobo Antunes. Este último é para mim o maior escritor português da actualidade e seria justo que recebesse essa distinção máxima.
Já nos disse que está a escrever um novo livro. Quer fazer algum comentário? Conta lançá-lo brevemente?
Este sétimo romance foi de todos o que envolveu maior tempo de gestação e espero que os três anos em que andei (intermitentemente) envolvida na sua criação se refllictam no resultado final. É um livro que conta a história de quatro amigos de diferentes nacionalidades: dois americanos, uma portuguesa e um francês que estudaram juntos no tempo da faculdade em San Petersburg. Para além da história de uma grande amizade entre os quatro, há duas histórias de amor cujos contornos se vão definindo ao longo do tempo, algum suspense, ciúme, intriga, desilusão, enfim, os ingredientes presentes nos livros anteriores tendo por cenário para além da cidade imperial de San Petersburg, Nova Iorque, Sintra, uma pequena povoação na Finisterra e o quase sempre presente Alentejo.
Sim, conto lançá-lo em breve.
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