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Folheando com... Gonçalo Martins


2015-04-30

Falar na Chiado Editora – uma das Editoras com mais crescimento e sucesso no país –, é falar também em Gonçalo Martins, que a fundou e a fez crescer com enorme sucesso. O Portal da Literatura, que tantas entrevistas a autores realizou ao longo de quase dez anos, faz hoje a sua primeira entrevista a um Editor.

Conte-nos, Gonçalo Martins, como foi a aventura de criar uma Editora: de onde veio a ideia, as dificuldades, o momento mais difícil, a primeira alegria, o momento actual.

A Chiado Editora tem sido uma aventura entusiasmante, desde a primeira hora. Desde logo, pelo momento em que foi criada, pleno de desafios! Estávamos em plena crise de 2008 e num ambiente editorial cujo espaço aparentava estar absolutamente dominado por lobbies editoriais, alicerçados em décadas durante as quais todo o mercado se habituou a ter os mesmos interlocutores e processos. Há sete anos, sentia claramente que o conforto com que algumas editoras estavam instaladas no nosso mercado estava a conduzir a alguma inércia e ao refúgio em estratégias mais conservadoras.

O que me entusiasmou para a criação da Chiado foi precisamente esse desafio e a certeza de que existiam outros caminhos para o trabalho com o livro no nosso tempo, aos quais as editoras mais clássicas não estavam a prestar a devida atenção. As ideias e valores que orientam todo o trabalho na Chiado Editora são as mesmas do primeiro dia: uma enorme vontade de fazer diferente, de romper com o conservadorismo instalado, de agitar as coisas, de democratizar o mercado livro e de inovar sem receios nem preconceitos.

Sete anos passados, publicamos mais de 1.000 títulos por ano e fornecemos as maiores livrarias e hipermercados em Portugal e no Brasil. Provámos que o mercado do livro é maior e mais alargado do que muitos teimam em sugerir. Esgotámos salas de 800 lugares para lançamentos de livros de poesia, lançámos novas obras de emergentes Autores brasileiros e angolanos nas melhores livrarias portuguesas e conseguimos colocar muitos Autores portugueses nas mais reputadas livrarias brasileiras. Temos crescido muito, mas a cada vitória colocamo-nos rapidamente novos desafios. Pensamos todos os dias como poderemos fazer melhor o que haverá de diferente para fazer no universo do livro. Acredito que é esse espírito desalinhado que resulta no crescimento da Chiado e é nele que encontramos a maior satisfação.

Quando olha para o panorama literário nacional, em geral, e para as Editoras de sempre, em particular, que ideias lhe ocorrem? Visto de outro prisma, onde assentou e assenta a diferenciação entre a Chiado Editora e as velhas mas conceituadas Editoras? Haverá facetas, perguntamos nós, em que não lhes consegue fazer frente, e inovações em que as superou?

Há sete anos, o mercado dava sinais evidentes de quebra e ninguém parecia perceber que boa parte das abordagens ao negócio estavam ultrapassadas. Poucos esboçavam uma tentativa de reacção ou mudança nas práticas instaladas. Sempre acreditei que o desconhecido pode representar uma ameaça para alguns, mas é no que não foi feito que residem as maiores oportunidades. Muitos dos objectivos que traçamos assentam em ideias pioneiras no mercado do livro e nunca nos inibimos perante a inovação. Existia, por exemplo, um preconceito enorme quanto à viabilidade de publicação de Autores emergentes e muito menos se acreditava que as suas obras poderiam encontrar espaço nas maiores lojas. Essa era ocupação de editoras supostamente “menores” e pouca ou nenhuma seriedade era atribuida a um Autor que procurasse emergir do anonimato, a não ser que pertencesse a priori a um certo status quo.

Em sete anos provámos já que o espaço por ocupar era afinal imenso. Somos a editora que mais publica em todo o universo da língua portuguesa. No nosso catálogo convivem de forma salutar e sem distinções ou privilégios Autores com maior reconhecimento público e um número enorme de talentosos Autores emergentes, para os quais conseguimos criar o espaço necessário num mercado editorial que lhes estava absolutamente vedado há sete anos.

Sabemos que gostam de inovar: têm uma gráfica, têm mais de dois milhões de seguidores no Facebook e planos para abrirem a Chiado noutros partes do planeta. A Chiado manterá como target os escritores emergentes, ou pensam conquistar também escritores conceituados?

O que identificamos como missão fundamental da Chiado passa pela democratização do acesso ao livro e à publicação. Esforçamo-nos diariamente por desfazer mitos e preconceitos, por deixar claro que para cada livro e Autor podem ser encontradas as oportunidades de publicação. Basta que o foco esteja nas soluções!

Com o crescimento da Chiado Editora, fomos integrando naturalmente no catálogo Autores mais conceituados ou com maior notoriedade pública e continuaremos a fazê-lo com um enfase cada vez maior, mas o nosso catálogo continuará plural e o mais diversificado possível.

A aposta em novos talentos sempre nos deu uma enorme satisfação. É um trabalho mais difícil, claro, mas por isso mesmo acaba por ser muito gratificante.

Fale-nos da estrutura da sociedade. Quantos sócios existem, quem faz o quê? A ida para outros mercados vai pressupor a entrada de novos sócios?

A Break Media, empresa que detém a marca Chiado Editora, é uma unipessoal, da qual sou fundador e até hoje único proprietário. Não está prevista a entrada de novos sócios, mesmo no contexto de expansão. A empresa está preparada para fazer frente a todos os investimentos previstos com o seu capital próprio.

O Gonçalo Martins é um homem de sonhos. Como empreendedor que é, quer revelar aos leitores habituais do Portal da Literatura os seus maiores sonhos a médio e longo prazo?

As ideias são muitas e o entusiasmo também! No que diz respeito à Chiado Editora, queremos continuar a crescer em todos os territórios onde publicamos. O crescimento no Brasil tem sido fantástico. A abertura do escritório de São Paulo foi determinante e a equipa que está dedicada em exclusivo aos Autores brasileiros é composta por alguns dos melhores profissionais da área naquele país. A Chiado tem sido recebida de uma forma muito positiva quer por Leitores como pelas maiores livrarias e estamos muito empenhados no crescimento sólido da Chiado no Brasil. A minha visão da Chiado Editora foi sempre a de uma editora global da língua portuguesa, com presença forte em todos os territórios da nossa língua e continuaremos a evoluir nessa expansão.

Além disto, temos várias chancelas internacionais com resultados já muito interessantes e que em breve conhecerão importantes desenvolvimentos.

O caso da Chiado Editorial, com sede em Madrid, é já um caso sério de afirmação da marca Chiado em Espanha e é já uma chancela com importantes passos dados na sua própria internacionalização para a América Latina.

A Chiado Editora levou a cabo recentemente uma iniciativa, celebrando dessa forma o Dia Mundial do Livro, em que criou e editou «Um Livro Num Dia». A comunicação social deu enorme destaque à iniciativa. Quer falar-nos dos resultados práticos desta acção?

Foi um dia fantástico! Foi uma verdadeira celebração do Livro, dos Autores e Leitores, que despertou enorme atenção, curiosidade e entusiasmo público. No espaço de poucas horas fomos visitados por muitas pessoas no nosso escritório móvel, instalado na Avenida da Liberdade em Lisboa, entusiasmadas com a possibilidade de acompanhar de perto todos os processos da criação de um livro, de raiz. Além de ter em mãos a missão exigente de criar um livro de fio a pavio no espaço de 9 horas, toda a equipa da Chiado esteve sempre empenhada em receber todos os curiosos que nos visitaram, conduzindo autênticas visitas guiadas aos processos de análise, revisão, paginação, design, etc...

Julgo que celebrámos da melhor forma o Dia Mundial do Livro, e fizémo-lo de uma forma que espelha na perfeição os nossos processos, o nosso posicionamento e a nossa Missão: desmistificar as ideias de que os processos de edição são pesados, a democratização do acesso à publicação, a transparência e proximidade aos Leitores e Autores.

O livro digital tem crescido em muitos mercados. Como é que a Chiado Editora olha para o ebook, e como é que pensa ajustar-se em função da evolução a que assistimos?

O crescimento do eBook é algo que veio trazer um novo fôlego ao universo editorial, e abrir enormes oportunidades para as editoras que sejam capazes de entender e antecipar este mercado e encará-lo como uma mais-valia.

Um dos nossos focos principais neste momento está precisamente no e-commerce. Apresentámos recentemente uma importante inovação na abordagem ao mercado de eBooks ao assumir frontalmente e sem preconceitos que livro em papel e o eBook são produtos diferentes, com custos diferentes, em que questões como o número de páginas ou os processos logísticos não têm o mesmo sentido como critérios para o PVP.

Todos os nossos livros têm versão eBook e todos os eBook’s têm preço único de 3€ ou 9 Reais Brasileiros. Apresentámos ainda outras duas inovações muito bem recebidas pelos nossos leitores; a cada livro comprado no nosso site, o leitor recebe gratuitamente a versão eBook e comprando apenas o eBook pode descontar o valor numa futura compra do livro em papel.

Este é um mercado ao qual estamos permanentemente atentos e no qual procuraremos inovar ainda mais no curto prazo.

Por último, gostaríamos de lhe perguntar quais serão as novidades mais importantes da Chiado Editora em 2015?

No curto prazo, teremos uma participação forte na Feira do Livro de Lisboa, onde estaremos presentes com seis pavilhões e uma programação cultural muito variada. Estaremos entre as editoras com uma participação de maior dimensão e seremos com certeza líderes no que diz respeito à programação: temos já agendadas perto de 400 sessões de autógrafos com os nossos Autores, a um mês do início da Feira; contaremos com a presença de vários Autores brasileiros, teremos dias temáticos dedicados a Autores de chancelas internacionais como a Chiado Editorial, que opera em Espanha, e ainda datas reservadas para a presença de Autores de todos os países africanos lusófonos, bem como outras surpresas que comunicaremos muito em breve!

O Verão será preenchido por várias acções públicas da Chiado Editora, para as quais antevemos um forte impacto e que colocarão certamente milhares de portugueses a ler e a descobrir os Autores que publicamos.

O final do ano trará novidades editoriais muito interessantes, mas que naturalmente não poderemos ainda divulgar. O melhor será mesmo que fiquem atentos à Chiado! Estou certo de que a energia e entusiasmo que conseguimos gerar no Dia Mundial do Livro terá sequência em muitas iniciativas com forte impacto público durante este ano!

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