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«Tenho o Prazer de Informar o Senhor Director...»

Duncan Simpson

2022 Bookbuilders

Sinopse

Os Portugueses foram meras vítimas da PIDE e das políticas opressivas que esta impunha ou, na realidade, como sob qualquer regime autoritário, interagiram com essa força policial servindo-a ou servindo-se dela?

Criada em 1945, numa reformulação meramente cosmética da sua antecessora (a PVDE), pois esta estava demasiado conotada com a era fascista, a PIDE (acrónimo para Polícia Internacional e de Defesa do Estado) manteve os extensos poderes arbitrários da PVDE na sua tripla missão: garantir a segurança do Estado (eliminando a dissidência política), controlar as fronteiras e actuar enquanto serviço de informações.

Para este fim, foi necessário criar uma rede de informadores. Até hoje, a bibliografia dedicada exclusivamente à PIDE continua a focar-se nos mecanismos de repressão exercidos sobre a pequena minoria de opositores ao regime, como se esta fosse a única forma de relacionamento entre a sociedade e a PIDE.

A principal consequência deste tipo de abordagem foi reduzir o grosso da população ao estatuto de povo vítima, que aguentou passivamente a repressão exercida pela PIDE.

No entanto, a realidade é bastante mais complexa, como esta obra visa demonstrar. A relação entre a sociedade portuguesa e a PIDE foi sempre muito mais activa e multifacetada do que tem sido reconhecido até hoje.

Os Portugueses nunca foram um simples povo vítima a aguentar passivamente e atemorizado o ímpeto repressivo da PIDE.

Pelo contrário, a sociedade portuguesa adaptou-se activamente à presença da polícia política e este livro pretende ilustrar as formas como os cidadãos comuns interagiam livremente com a PIDE, muitas vezes (mas não sempre) instrumentalizando-a para cumprir interesses pessoais ou satisfazer necessidades básicas do dia-a-dia.

EXCERTOS
«A 24 de Agosto de 1964, o subinspector António Augusto Teodósio, da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), enviou aos seus superiores um relatório sobre a situação social e política na zona da Guarda.

“De toda a parte”, escreveu, “chegam até nós cartas anónimas, chamadas telefónicas e outras notícias, dando-nos conhecimento de fugas constantes [para o estrangeiro] de indivíduos, em maior número de rapazes novos, que fogem ao serviço militar”.

O seu principal objetivo era alertar as autoridades em Lisboa quanto à magnitude da tarefa que a PIDE enfrentava na sua missão de controlo das fronteiras, em particular na contenção da emigração clandestina.

Indiretamente, o conteúdo do relatório proporciona também um sinal enfático da importância das denúncias (espontâneas) enquanto fenómeno social nos anos da ditadura salazarista.

Já em 1951 Joaquim Trigo de Negreiros, o então titular da pasta do Interior (órgão de tutela da PIDE), tinha lamentado, num relatório interno, o afluxo de cartas de denúncia enviadas por membros do público.

Este tipo de relatórios não só contradizia as pretensões do regime quanto à criação de uma sociedade “organicamente” harmoniosa, como sugere a prevalência da delação enquanto prática social generalizada durante o período do Estado Novo.»

Da Introdução.

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