Sinopse
Foram os Anos de Chumbo, reza a historiografia que proscreve a era do Estado Novo. Éramos ensinados num Portugal de grandezas, sob a apologia da modéstia digna, de cada um no seu lugar. Os que viviam no Bairro Social de Alvalade conheciam as distinções dos que viviam na Avenida dos Estados Unidos da América, do Bairro de S. Miguel e até do Bairro das Estacas. Havia a confluência entre os que vinham dos arrabaldes e não tinham escola, e a pequenada do bairro, filhos e netos de um pequeno funcionalismo.
Temos aqui uma crónica familiar e de costumes. As matrizes do fedelho: D.ª Ângela Costa, fazendeira e senhora de sobrados, no Cuanza Norte; a filha que ela adotou, quando a menina tinha dois meses, e que tratou como uma princesa; e D.ª Anita, vinda das Pedras Salgadas para Lisboa, mulher de industrial conserveiro. Foram as suas madres tutelares. Lisboa expandia-se, era a irrequietude à volta de um pós-guerra benigno. Na escola, não só Portugal era grande como grande era a literatura, e devíamos estar agradecidos a viver em segurança, pertencer a uma nação respeitada em todo o mundo.
É neste berçário que se vai formar o fedelho, e daí um olhar um tanto emotivo mas buscando rigor no registo de uma sociedade que ia ganhando mais sonhos. Sem estes Anos de Chumbo não é concebível imaginar tudo quanto se passou na prodigiosa década de 1960 e vislumbrar Abril.