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Poema e Poesia de Maria Teresa Horta

Mulher
Maria Teresa Horta

Anjos mulheres - VI

As mulheres voam 
como os anjos: 
Com as suas asas feitas 
de cristal de rocha da memória 

Disponíveis 
para voar 

soltas... 

Primeiro 
lentamente: uma por uma 

Depois, 
iguais aos passaros 

fundas... 

Nadando, 
juntas 

Secreta: a rasar o 
chão 

a rasar a fenda 
da lua 

no menstruo: 
por entre a fenda das pernas 

Às vezes é o aço 
que se prende 
na luz 

A dobrarmos o espaço? 

Bruxas: 
pomos asas em vassouras 
de vento 

E voamos 

Como as asas 
lhe cresciam nas coxas 

diziam dela: 
que era um anjo do mar 

Rondo alto, 
postas em nudez de ombros 
e pernas 

perseguindo, 

pelos espaços, 
lunares 
da menstruação 

e corpo desavindo 

Não somos violencia 
mas o voo 

quando nadamos 
de costas pelo vento 

até à foz do tempo 
no oceano denso 
da nossa própria voz 

Sabemos distinguir 
a dormir 
os anjos das rosas voadoras 

pelo tacto? 

Somos os anjos 
do destino 

com a alma 
pelo avesso 
do útero 

Voamos a lua 
menstruadas 

Os homens gritam: 
– são as bruxas 

As mulheres pensam: 
– são os anjos 

As crianças dizem: 
– são as fadas 

Fadas? 

filigrama cintilante 
de asas volteando 
no fundo da vagina 

Nadamos? 

De costas, 
no espaço deste século 

Mudar o rumo 
e as pernas mais ao 
fundo 

portas por trás 
dobradas pelos rins 

Abrindo o ar 
com o corpo num só golpe 

Soltas, 
viando 
até chegar ao fim 

Dizem-nos: 
que nos limitemos ao espaço 

Mas nós voamos 
também 
debaixo de água 

Nós somos os anjos 
deste tempo 

Astronautas, 
voando na memória 
nas galáxias do vento... 

Temos um pacto 
com aquilo que 
voa 

– as aves 
da poesia 

– os anjos 
do sexo 

– o orgasmo 
dos sonhos 

Não há nada 
que a nossa voz não abra 

Nós somos as bruxas da palavra 

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