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Poema e Poesia de Maria Teresa Horta

Corpo
Maria Teresa Horta

Os anjos do corpo – IV

Meu infatigavel 

anjo, 

da guarda de meu corpo 

São os anjos quem 
guardam 
os orgasmos 

Pastores 

Dos rebanhos 
– dos ardores 
Dos odores do corpo 

Hei-de confessar-te 
um dia 
o meu desejo: 

um anjo 

que me acaricie devagar o clitóris 
as pernas entreabertas 
ao meu beijo 

Quantas vezes te digo 
que te dispo 
e depois te lambo 

primeiros as asas 
e o pénis 

e em seguida: o ânus 

E o anjo 
debaixo 
ficou a acariciar o pénis 
do anjo que voava 
por cima 

de manso procurando 
o fundo 
da vagina 

Sou eu que te transformo 
de prazer 
em anjo do orgasmo 

infatigável 
suco 
da língua 

Naquilo que te faço 

Com o teu clitóris 
de ouro, 
és o anjo 

mamilos à flor da pele 
que tapas com as asas 

Os anjos descobrem 
a vulva 
no mesmo instante 

em que sabem 
do pénis: 

com 
as pernas ligeiramente 
abertas 
e desviando as asas 

Despir os anjos 
um por um 

passando-lhes a língua... 

lentamente, 
pelo sal do pénis 
Sorvendo-lhes em seguida 
os sucos da vagina 

Penteio com os dedos 
os cabelos 
deste arcanjo 

respirando baixo 
o interior macio 
das suas pernas 

o púbis 
deste anjo 

O sabor do esperma 
dos anjos que imaginam 

a-mar 

as águas 
uterinas 

Lambe-me devagar 
o céu da boca 

como se a voasses 

É um púbis de anjo 
com pequenas asas 

sob: 
sobre a doce matiz 
matriz 
do clitóris 

Viro-te anjo 
debaixo do meu corpo 

cubro-te: 
voando – vogando 
pelo nada 

o teu pénis 
direito 
no meu púbis 

e mais abaixo 
a tua vagina alada 

Adormeço de ventre 
em tuas 
asas 

deitada ao comprido 
no espaço 
das tuas pernas 

pernas 

Cisterna 
posta à beira 
da sede dos teus braços 

Primeiro roço-te 
as asas 
suspensas pelos teus ombros 

imaginando apenas 

aquilo que depois 
mergulho 
e faço: 

Traz o anjo 
o arrepio 
ao corpo todo 

um aperto nos 
seios 
e na vagina 

Uma febre incerta 
que vagueia 
nas asas, nas coxas 
e nas veias 

Tinha um corpo de 
lua 
pelo lado da cor e do frio 

em desiquilibrio no fio da faca 
do orgasmo 

O teu corpo, 
neste envolvimento 
de voo 

e de vulva 

Meu amor que mergulhas 
de vertigem: 

Anjo expectante 
da vagina 

A mistura de mim 
com o teu corpo 

asas pequenas que estremecem 
debaixo do desejo 

Não tens noção 
de quanto é corpo o corpo 
nem desejo 

Anjo 

Voando sobre 
o que é baixo 

Sob 

Voando sob 
o que é por baixo 

Tocar-te apenas com 
a língua 
a cabeça do pénis 

como se devagar 
lambesse 
o meu clitóris 

até sentir o orgasmo 
trepar-me pelas pernas 

Bebem os anjos 
a saliva 
dos anjos 

Pela taça 
– exposta – 
da vagina 

São rarissimas as 
asas 
que não partem dos seios 

a florir nos 
ombros 

Como um manso púbis 
com os seios veios 
de sombra 

Quando 
o clitóris toca 
o clitóris dos anjos... 

Lambe-me as asas 
– disse o anjo 
ao anjo mais perto... 

dos seus pulsos

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