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Poema e Poesia de Natália Correia

Mundo
Natália Correia

Cântico do País Emerso

Os previdentes e os presidentes tomam de ponta 
Os inocentes que têm pressa de voar 
Os revoltados fazem de conta fazem de conta... 
Os revoltantes fazem as contas de somar. 

Embebo-me na solidão como uma esponja 
Por becos que me conduzem a hospitais. 
O medo é um tenente que faz a ronda 
E a ronda abre sepulcros fecha portais; 

Os edifícios são malefícios da conjura 
Municipal de um desalento e de uma Porta. 
Salvo a ranhura para sair o funeral 
Não há inquilinos nos edifícios vistos por fora 

Que é dos meninos com cataventos na aérea 
Arquitetura de gargalhadas em cornucópia? 
Almas bovinas acomodadas à matéria 
Pastam na erva entre as ruínas da memória, 

Homens por dentro abandalhados em unhas sujas 
Que desleixaram seu coração num bengaleiro; 
Mulheres corujas seriam gregas não fossem as negras 
Nódoas deixadas na sua carne pelo dinheiro; 

Jovens alheios à pulcritude do corpo em festa 
Passam por mim como alamedas de ciprestes 
E a flor de cinza da juventude é uma aresta 
Que me golpeia abrindo vácuos de flores silvestres 

E essa ansidedade de mim mesma me virgula 
Paula de pátria entressonhada. É um crisol. 
E, o fruto agreste da linfa ardente que em mim circula 
Sabe-me a sol. Sabe-me a pássaro. Pássaro ao sol. 

Entre mim e a cidade se ateia a perspectiva 
De uma angústia florida em narinas frementes. 
Apalpo-me estou viva e o tacto subjectiva-me 
a galope num sonho com espuma nos dentes. 

E invoco-vos, irmãos, Capitães-Mores do Instinto! 
Que me acenais do mar com um lenço cor da aurora 
E com a tinta azulada desse aceno me pinto. 
O cais é a urgência. O embarque é agora. 

em "Cântico do país emerso"

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