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Poema e Poesia de Vitorino Nemésio

Possuíram-te nas ervas, 
Deitada ao comprido 
Ou lívida a pé: 
Do estupro conservas 
O sangue e o gemido 
Na morte da fé. 

Chegaste a cavalo 
Trémula de espanto: 
Esperavas levá-lo 
Com modos de amor: 
O fátum, num canto, 
Violento ceifou-te 
O púbis em flor: 
Dou-te 
O acalanto 
Mas não há palavras 
Para tal horror! 

Vem ainda em cós, mulher, 
Limpa as tuas lágrimas no meu lenço: 
Nem pela dor sequer 
Eu te pertenço. 

O cavalo fugiu, 
Deixou-te em fogo a fralda: 
Que malfeliz Roldão 
Para tal Alda! 
Ao frio, ao frio, 
Tinta de ti é a água e sangue o chão. 

Ponta Delgada a arder 
Do próprio pejo, quis 
Em verde converter 
O incêndio do teu púbis. 

Mulher, não me dês guerra, 
Oh trágica enganada: 
Tu és a minha terra 
Na carne devastada 
Como a Ilha queimada. 

Em "Caderno de Caligraphia e outros Poemas a Marga"

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