Amos Oz
1939
Biografia
Amos Oz nasceu em Jerusalém em 1939, foi professor de literatura na Universidade Ben Gurion no deserto do Negev. Escritor e jornalista, é autor de uma vasta obra que inclui romances e ensaios traduzidos em mais de quarenta línguas. É, desde 1991, membro da Academia da Língua Hebraica. Os seus livros têm recebido as mais importantes distinções internacionais, incluindo o prémio Fémina (1988) prémio da Paz de dos Livreiros Alemães (1992), o prémio Israel (1998), o prémio Goethe (2005) e o prémio Príncipe das Astúrias (2007). Alguns de seus livros mais conhecidos são “Caixa Preta”, “A pantera no porão” e “De amor e trevas”. Faleceu em 2018.
Livros escritos por Amos Oz
Diversos
CENAS DA VIDA DE ALDEIA
O velho passava a maior parte do dia estendido numa espreguiçadeira na área lajeada à frente da porta de entrada. Quando ficava impaciente, levantava-se e errava como uma alma penada pela casa, descia à cave para colocar uma ratoeira para os ratos, lutava raivosamente com o mosquiteiro da varanda, que puxava em vez de empurrar, praguejava contra os gatos da filha que se escapuliam ao ouvir o arrastar das suas pantufas. Descia da varanda para o pátio da antiga quinta com a cabeça inclinada para a frente num ângulo quase reto - parecia uma enxada virada ao contrário - procurando encarniçadamente alguma brochura ou carta justamente na chocadeira abandonada, no depósito de adubos ou na arrecadação dos utensílios. Esquecido do que procurava, agarrava com ambas as mãos alguma enxada que encontrava por ali e começava a cavar um rego inútil entre dois canteiros, vituperava contra a sua estupidez e contra o estudante árabe que não varria as folhas secas. Depois atirava a enxada e entrava em casa pela porta da cozinha. Aí abria a porta do frigorífico, inspecionava o interior iluminado por uma luz fria e pálida, batia com a porta estremecendo as garrafas, atravessava raivosamente o corredor a resmungar algo, talvez censuras a Tabenkin ou a Meir Yaari, dava uma espreitadela à casa de banho, insultava a Internacional Socialista, ia até ao seu quarto e voltava para a cozinha, com o pescoço deformado dobrado em ângulo quase reto e a cabeça coberta pela boina preta projetada para a frente, como um touro a investir na arena, esquadrinhava o aparador e os louceiros à procura de chocolate, sempre a resmungar, e batia com as portas do armário, desiludido.
Fonte: D. Quixote, pag. 59