Pedro Paixão
Biografia
Romancista, contista e cronista, Pedro José de Carvalho Paixão nasceu em Lisboa, a 7 de Fevereiro de 1956, filho de uma farmacêutica portuguesa nascida e criada em Rhode Island, nos E.U.A., e de um engenheiro agrónomo proveniente da Abrunhosa do Mato, na Beira Alta. Os Estados Unidos da América, e principalmente Nova Iorque, vieram a revelar-se uma influência mais que umbilical na vida de Paixão: muitas das suas histórias têm a cidade como pano de fundo, fez lá um curso de cinema – que foi o ponto de partida para escrever o romance Portokyoto – e para esta cidade voou imediatamente após o 11 de Setembro, empatia que viria a dar origem ao livro de crónicas semi-jornalísticas A Cidade Depois. Já no ano anterior, os livros Saudades de Nova Iorque e 47W17 (complementares um do outro), prenunciavam uma necessidade do autor regressar episodicamente a essa cidade onde se sente em casa.
Há uma certa coincidência entre o apelido deste escritor e o que ele escreve: além das relações amorosas serem um tema omnipresente, os seus livros têm despoletado amores e ódios em igual medida. E, enfatizando ainda mais esta clivagem, Pedro Paixão não se considera escritor mas deseja ser lido pelo maior número de pessoas, e já algumas vezes afirmou, em entrevistas, querer desistir de escrever, mantendo porém uma média próxima de dois livros publicados, por ano, desde 1992.
O jovem Paixão teve uma educação verdadeiramente internacional: estudou no liceu francês Charles Lepierre e no liceu Pedro Nunes e passou os verões adolescentes num colégio em Inglaterra. Prestes a atingir a maioridade, descobre o marxismo, torna-se membro de uma organização política clandestina e começa um curso de Economia, no ISE. As convulsões políticas e sociais entretanto geradas pela Revolução levam-no a abandonar o curso, a embrionária opção política e o País.
Prosseguiu os estudos na Alemanha e Bélgica, tendo concluído uma licenciatura em Filosofia em apenas três anos (1983) e recebido a nota máxima para o doutoramento em Lovaina (1986), com uma tese sobre o conceito de Vida. Voltou para Portugal para leccionar na Universidade Católica e na Universidade Nova de Lisboa (FCSH). Actualmente, lecciona apenas na Nova e, no ano lectivo 2003/2004, estão-lhe atribuídas as disciplinas de Filosofia Contemporânea e Estudos Aprofundados de Fenomenologia.
No final dos anos 80, foi na companhia do amigo Miguel Esteves Cardoso que Pedro Paixão descobriu novos horizontes criativos: estiveram juntos na criação do jornal O Independente (onde Paixão foi conselheiro da direcção até ao sétimo número), fundaram a agência de publicidade Massa Cinzenta, e fizeram o programa de rádio Sabe-se lá o amor, na CMR. Desde então, escrever tornou-se uma outra forma de vida para o professor de Filosofia, que publicou o primeiro livro em 1992 (A Noiva Judia) e começou a assinar algumas colaborações na comunicação social. Mais recentemente, escreveu um texto para uma ópera (Édipo, para a Culturgest, a convite do músico António Pinho Vargas) e viu dois textos seus serem adaptados a peças de teatro.
O estilo da escrita de Pedro Paixão é acessível, simples e corrido, embora pontuado de referências culturais eruditas e considerações filosóficas mais profundas e paradoxais do que uma leitura ao ritmo do texto deixa transparecer. Nele se confundem as fronteiras da ficção e do relato autobiográfico, parecendo que o autor, através do narrador, manipula realidades alternativas para a sua própria vida.
Alguns críticos costumam dividir a sua obra em duas fases, a primeira mais virada para si próprio e para o quotidiano da classe social média-alta da sua geração. Paulo Roberto Pires vê na segunda fase “uma abertura para o mundo, às vezes menos efectiva do que aparenta, [e que] talvez marque uma mudança suave e sensível na obra de Pedro Paixão, temperada que está agora por referências outras que a inabilidade crónica dos seus personagens em lidar com os próprios desejos”.
O narrador dos primeiros livros, provocador enfadado variando como num estado maníaco entre a hiperactividade e a letargia, perdendo-se em questões materiais como o dinheiro, a vida nocturna, as relações fortuitas ou a droga como paliativo para o ócio, tem vindo lentamente a dar lugar a um consternado observador de dois dos grandes problemas do mundo actual, directamente relacionados com as suas “segundas pátrias”: o 11 de Setembro (E.U.A.) e a Segunda Intifada (Israel).
Atravessando toda a sua obra, são identificáveis alguns temas recorrentes: além das relações amorosas fortuitas, encontram-se bastante presentes as dúvidas sobre a possibilidade de ter ou não uma identidade judaica, mas também o cosmopolitismo e a solidão, o renascimento pessoal e a procura de deus. O paradoxo entre Filosofia e Religião é constante.