Sinopse
«Quando é importunada com perguntas, a recordação assemelha-se a uma cebola, que quer ser descascada, para que possa vir à luz aquilo que é legível, letra a letra: raramente de forma unívoca, muitas vezes como escrita em espelho. A cebola tem muitas camadas. Mal é descascada, renova-se. Cortada, provoca lágrimas. Só ao descascá-la fala verdade. O que aconteceu antes e depois do fim da minha infância, bate à porta com factos e decorreu pior do que o desejado, quer ser contado às vezes assim, outras de maneira diferente e desencaminha para histórias de mentira.»
Descascando a Cebola, a polémica autobiografia de Günter Grass, aborda a vida do escritor entre 1939 e 1959. Começa quando, ao completar 12 anos, a Alemanha entra em guerra. Confessa ter integrado as Waffen-SS quando a guerra já estava perdida para a Alemanha, mas o delírio ainda fazia supor outro destino para o seu povo e país. Grass relembra também a sua adolescência na destruída Alemanha do pós-guerra, a fome e as privações, o seu trabalho como mineiro e a decisão de exilar-se em Paris onde escreveu O Tambor, a obra que lhe deu notoriedade internacional e permitiu que recuperasse a auto-estima após a derrota.
Descascando a Cebola pode ser lido, também, como um relato trágico de uma época de barbáries, que aflora a partir de uma história pessoal e em que convive, ainda que com dor, o renascimento de uma Europa diferente, que voltava a viver depois dos bombardeios e das batalhas.
«Descascando a Cebola é a tentativa de redescobrir um jovem que hoje me é estranho e de questionar o meu comportamento em determinadas situações.»
«Não sabia nada dos crimes de guerra que mais tarde vieram à luz, mas a afirmação da minha ignorância não pode ocultar a consciência de haver estado integrado num sistema que planificou, organizou e executou o extermínio de milhões de pessoas.»