
Sinopse
Dois tempos. Duas realidades. Duas vidas distintas. De um lado, o poeta Augusto Reis, administrador de um banco e reputado académico com ligações indistintas ao regime de Salazar, que vê a sua vida ruir com o 25 de Abril. Do outro, Djalma dos Santos, um jovem de um bairro da Amadora, que em pequeno encontrou um poema de Augusto Reis e o guardou como tesouro, como mantra. A unir os dois tempos, Sofia Bessa, realizadora cujo último filme foi arrasado pela crítica e que, a medo, aceita o desafio para um novo documentário. A unir os dois homens, a poesia.
Alternando passado e presente, A Gargalhada de Augusto Reis é, em última instância, um romance sobre o mistério mais simples e o mais fugaz: a alegria.
Extras
EXCERTO DO LIVRO
«Uma multidão de miúdos num lugar longe dali. Numa terrinha de província, Boiços, no norte-interior da sua memória. Miúdos magros, vestidos de cores escuras ou sujas; miúdos sépia dos velhos dias do Estado Novo; miúdos com os gestos pesados de quem carrega, desde nascença, um «destino traçado», o de serem iguais aos pais, pessoas repetidas e caladas que criem filhos repetidos e calados, e assim para sempre. Miúdos de cabelos negros e olhos claros emagrecendo pela cidade, rezando palavrões com vozes quebradas. Sim, claro, a universalidade da escola democrática alterou isto, sem dúvida. Hoje, mesmo nos “meios mais desfavorecidos” (guarde-nos Deus Nosso Senhor de todos os eufemismos e meias-palavras), uma criança pode sonhar mais, pode imaginar-se diferente. Sem dúvida. Mas ainda é tão gritante a desigualdade, tão obscena a injustiça. Como é que se consegue ser livre assim?»