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Poema e Poesia de Cesare Pavese

Mulher
Cesare Pavese

Uma Recordação

Não há homem que consiga deixar uma marca 
nela. Todo o passado se dilui num sonho 
como uma rua na manhã e só fica ela. 
Se não fosse a testa franzida por um momento 
pareceria atónita. As maçãs do rosto têm sempre 
um sorriso. 

                   Também não se acumulam os dias 
no seu rosto, nem alteram o sorriso leve 
que irradia sobre todas as coisas. Com uma firmeza dura 
faz cada coisa como se fosse a primeira; 
no entanto vive-a até ao último momento. O seu corpo 
firme abre-se, o olhar recolhido, 
a uma voz doce e algo rouca: à voz 
dum homem cansado. E nenhum cansaço a toca. 

Quando se lhe olha para a boca, semicerra os olhos 
à espera: ninguém se arriscaria. 
Muitos homens conhecem o seu ambíguo sorriso 
ou a súbita ruga. Se homem existiu 
que a soube queixosa, humilhada de amor, 
paga dia após dia, ignorando dela 
por quem vive hoje. 

                                  Caminhando pela rua 
sorri sozinha o sorriso mais ambíguo. 

Cesare Pavese, in 'Trabalhar Cansa' 

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