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Poema e Poesia de Antero de Quental

Vida
Antero de Quental

Palavras d'um Certo Morto

Há mil anos, e mais, que aqui estou morto, 
Posto sobre um rochedo, à chuva e ao vento: 
Não há como eu espectro macilento, 
Nem mais disforme que eu nenhum aborto... 

Só o espírito vive: vela absorto 
N'um fixo, inexorável pensamento: 
«Morto, enterrado em vida!» o meu tormento 
É isto só... do resto não me importo... 

Que vivi sei-o eu bem... mas foi um dia, 
Um dia só — no outro, a Idolatria 
Deu-me um altar e um culto... ai! adoraram-me. 

Como se eu fosse alguém! como se a Vida 
Podesse ser alguém! — logo em seguida 
Disseram que era um Deus... e amortalharam-me! 

Antero de Quental, in "Sonetos"

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