Poema e Poesia de José Tolentino Mendonça
Minha mãe gosta das luzes acesas
mesmo quando dorme
depois é de uma distração flagrante
Ela diz que devemos cuidar da aveia do amor
e parece não ver que minto
sobre jeiras e despensas vazias
«Gosto do modo como as andorinhas esperam»
canta ela através do meu abandono
Minha mãe acha que ofereço roupagens de Salomão
em troca de fracas penas
porque se as palavras me disseram o que realmente guardam
(e ela carrega no se, como declarando em perigo a condição terrena)
estarei desprovido na mesma
melhor seria deixar truques que misturam
punhais e revelações
Seus olhos quando me olham
com uma miséria que dói
lembram o que se ouve de incertos mendigos
que algures escondem fabulosas somas