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Poema e Poesia de Álvaro de Castro e Sousa Correia Feijó

Adoração
Álvaro de Castro e Sousa Correia Feijó

Nossa Senhora da Apresentação

O altar as vagas

o dossel a espuma!

Missas rezadas pelo vento,

ora pelos fiéis defuntos que se foram

noutras vagas.

Ora pelas barcaças que, uma a uma,

buscaram as sereias na distância

e se foram com elas.

Sobre o altar, entre círios, que não são

os círios murchos das igrejas velhas

mas o lume de estrelas,

ELA,

Nossa Senhora da Apresentação.

Aquela

que não tem mantos da cor do céu,

nem fios doiro nos cabelos,

nem anéis nos dedos;

aquela

que não traz um menino nos seus braços

porque os seios mirraram

e já não têm pão para lhe dar;

aquela

que tem o corpo negro e sujo

e os ossos a saltar

da pele

e dos rasgões da saia e do corpete;

Nossa Senhora da Apresentação

da Beira-Mar,

que tem capelas

em cada peito de marinheiro,

que morre e, num instante,

se renova

e que anda

quer nos engaços do sargaceiro

ou nas gamelas do pilado

e palhabotes da Terra Nova.

Aquela

a quem todos adoram.

Dos meninos

feitos nos intervalos das campanhas,

aos bichanos que limpam de cabeças

e tripas de pescado

as muralhas do cais.

 

O dossel a espuma.

O altar das vagas

— e que altar enorme! —

Entre círios de estrelas,

Nossa Senhora da Apresentação

e Justificação

— a Fome!

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