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Poema e Poesia de Carlos Drummond de Andrade

Falta pouco para acabar 
o uso desta mesa pela manhã 
o hábito de chegar à janela da esquerda 
aberta sobre enxugadores de roupa. 
Falta pouco para acabar 
a própria obrigação de roupa 
a obrigação de fazer barba 
a consulta a dicionários 
a conversa com amigos pelo telefone. 

Falta pouco 
para acabar o recebimento de cartas 
as sempre adiadas respostas 
o pagamento de impostos ao país, à cidade 
as novidades sangrentas do mundo 
a música dos intervalos. 

Falta pouco para o mundo acabar 
sem explosão 
sem outro ruído 
além do que escapa da garganta com falta de ar. 

Agora que ele estava principiando 
a confessar 
na bruma seu semblante e melodia. 

em 'A Falta que Ama'

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