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Poema e Poesia de Rui Manuel Correia Knopfli

Poesia
Rui Manuel Correia Knopfli

O Escriba Acocorado

Sentado na pedra de ti próprio, 
não tens rosto, senão o que, 
de anónimo, a ela afeiçoou 
a mão que assim te quis. Do resto, 
do que de individualidade, porventura, 

em ti existiria, se encarregou 
a persistente erosão dos dias. De vago, 
neutro olhar sem órbitas, permaneces 
hirto, fitando sempre mais além 
da morna penumbra que te envolve 

no halo intemporal que é, do tempo, 
o nexo único. Nesse olhar 
de não ver tudo se inscreve, 
repensa e adivinha: teus limites 
e, ainda, o que excederia tua humana 

estatura. Sem contornos, em sombra 
e sono te diluis no que, de ti, 
nunca saberemos. Porém, límpida 
e escorreita, até nós chega a laboriosa 
escrita que no papiro ias lavrando. 

Rui Knopfli, in "O Corpo de Atena"

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