loading gif
Loading...

Poema e Poesia de António Nobre

Vida
António Nobre

Enterro de Ophelia

Morreu, Vae a dormir, vae a sonhar... Deixal-a! 
(Fallae baixinho: agora mesmo se ficou...) 
Como padres orando, os choupos formam ala, 
Nas margens do ribeiro onde ella se afogou... 

Toda de branco vae, n'esse habito de opala, 
Para um convento: não o que o Hamlet lhe indicou, 
Mas para um outro, horror! que tem por nome Valla
D'onde jamais saiu quem, lá, uma vez entrou!... 

O lindo Por-do-Sol, que era doido por ella, 
Que a perseguia sempre, em palacio e na rua, 
Vede-o, coitado! mal pode suster a vela... 

Como damas de honor, nymphas seguem-lhe os rastros, 
E, assomando no céu, sua Madrinha, a Lua, 
Por ella vae desfiando as suas contas, Astros! 

António Nobre, in 'Só'

Voltar

Faça o login na sua conta do Portal