Poema e Poesia de António Nobre
Os meus pecados, Anjo! Os meus pecados!
Contar-tos para quê, se não têm fim?
Sou santo ao pé dos outros desgraçados,
Mas tu és mais que santa ao pé de mim.
A ti acendo sírios perfumados,
Faço novenas, queimo-te alecrim,
Quando sofro, me vejo com cuidados…
Nas tuas rezas, lembra-te de mim!
Que eu seja puro de alma e pensamento!
E que, em dia do grande Julgamento,
Minhas culpas não sejam de maior:
Pois tenho (que o Céu aponta e marca)
Um processo a correr nessa comarca,
Cujo delegado é Nosso Senhor…
António Nobre, in 'Só'