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Raízes - Pedro Guilherme-Moreira


Ana Teresa Pereira (Baker)

2015-12-23 00:00:00

Já vos falei de como amo, desde que a folheei pela primeira vez, a Ana Teresa Pereira?
De como decidi idolatrá-la e venerá-la de forma acrítica em vozes de veludo a preto e branco e estalidos nas costuras?
De como a levo pelas veredas que rasam as praias esbranquiçadas de novembro?
De como a chamo em inglês, Rosalyn, are you coming?, e a inquietude parda de uma irlanda larga e comprida se dilui mal a mão dela toca a minha e o sorriso dela está contido mas cheio e ela responde, já em surdina, I won´t come - You know.

I know, I know. You do not exist.

At least untill the next frame.

E fico com a página em suspenso e Bus Stop em pausa na brancura de Miss Baker e lhe digo, e insisto, que o nosso filme, afinal, é The Misfits, mas ela não, fica líquida por excesso de pausa e eu bebo e fumo e viro a página, enfim.

O que está a ler? Ana Teresa Pereira? - pergunta o velho Clark na rua das flores

Os barcos rabelos turísticos explodem no douro e a ponte de ferro está em brasa. Tomo sentido.

Como disse?

Se está a ler Ana Teresa Pereira.

Ah, não, não, estou a escrevê-la. Tenho esta doença, sabe? Os meus ídolos cercam-me e enlaçam-me o pescoço como os cavalos nos desertos salgados e eu estou gravemente doente e escrevo. Com efeito, decidi agora mesmo que ela se chama Norma Jeane e eu sou você, Clark, e estamos todos a preto e branco, nós já somos velhos, ela nunca será.

Já lhe falei de como a amo?

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