Sinopse
Dresden, 1945: escassos meses antes do fim da guerra, a cidade é bombardeada até à destruição total, dezenas de milhares de pessoas mortas numa só noite. Escondido na cave de um matadouro, conhecemos Billy Pilgrim, jovem protagonista desta narrativa, que, como Kurt Vonnegut, foi feito prisioneiro de guerra pelo exército alemão e sobreviveu ao bombardeamento. Com ele embarcamos numa odisseia que atravessa vários tempos - passado, presente e futuro -, como se Pilgrim imitasse o caminho percorrido por qualquer vida destroçada, procurando sentido na inevitável falibilidade humana.
Extras
Kurt Vonnegut escreveu sobre um dos episódios mais atrozes da Segunda Guerra Mundial, fazendo uso de um olhar e de uma técnica inesperados: ao lado do horror, o riso; ao lado do medo, a ternura; ao lado da indiferença, a esperança. Demorou vinte anos a transformar a sua experiência num romance sobre a guerra que fosse diferente de todos os outros. O resultado é uma obra-prima.
Críticas ao livro " Matadouro Cinco "
Fonte:
Rui Baptista
Kurt Vonnegut, formado em química e antropologia, combateu na Segunda Guerra Mundial – era batedor da infantaria americana. Foi feito prisioneiro de guerra e assistiu ao bombardeamento de Dresden, cidade alemã. Quando voltou, ficou com a vontade de escrever um livro que anti-guerra com base na sua experiência. Esta tarefa não foi tão fácil quanto poderia parecer ao início.
Matadouro Cinco surge no final da década de 60 do século XX. Ao contrário do que poderia parecer, não apresenta uma narrativa fria e crua, nem é um romance repleto de heróis e vilões. Esta é uma trama, cheio de saltos no tempo, humor negro, ironias e discos voadores. Confusos?
Billy Pilgrim, um jovem norte-americano, é chamado para combater contra as potências do eixo na Europa. Contudo, Pilgrim possui algumas particularidades: é um homem volúvel no tempo, e, quando foi raptado pelos habitantes do planeta Tralfamadore, aprendeu uma percepção de vida diferente da humana. Deste modo, Pilgrim aceita as situações porque passam de forma estóica, uma vez que compreende que estas são inevitáveis e não podem ser alteradas, sendo para ele possível viajar através do tempo e do espaço.
Com uma linguagem simples repleta de humor negro e ironias, Vonnegut apresente um livro maravilhoso, que tem o bombardeamento de Dresden como pano de fundo. O autor demonstra o horror da guerra de uma forma que tanto choca como provoca gargalhadas, deixando um sentimento misto que faz com que o leitor encontre momentos de diversão que interpelam e incomodam.
As personagens são complexas e profundas, dotadas de personalidades marcantes originadas pelas suas histórias de vida, o que levam o leitor a pensar se não serão baseadas em pessoas que o autor realmente conheceu e que sofreram todos os horrores descritos.
É bastante curioso ver a repetição da frase “e é assim”, sempre que é narrada a morte de alguém (ou algo), o que reforça a ideia de que a morte é algo inevitável e natural. Esta repetição, dá força à morte que ocorreu. Faz com que o leitor tenha uma maior atenção a estas situações e tenha percepção das vidas que se perdem a cada momento. Inicialmente, a repetição pode ser tida como humorística, mas com o decorrer da narrativa, vai ganhando um peso cada vez maior, podendo tornar-se incómoda, pois remete para os horrores da guerra e da crueldade humana.
Outra questão que surge nesta obra é a ironia da própria vida. Se por exemplo, a personagem principal volta para casa com diamantes de grande valor, um outro soldado de grande valor, é morto quando apanhado com um bule que não lhe pertence – isto não é nenhum spoiler, o próprio autor fala do assunto logo no início do seu livro –, para além de abranger a própria decadência humana e a acomodação das relações.
Tal como o autor promete, Matadouro Cinco é uma obra que se apresenta anti-guerra, cujos acontecimentos de batalha são baseados na sua própria experiência, o que tornam a escrita mais poderosa, apesar do estilo de Kurt Vonnegut poder não o sugerir no começo.