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Poema e Poesia de Maria Teresa Horta

Amor
Maria Teresa Horta

Modos de amar

Modo de amar – I 

Lambe-me os seios 
desmancha-me a loucura 

usa-me as coxas 
devasta-me o umbigo 

abre-me as pernas 
põe-nas nos teus ombros 

e lentamente faz o que te digo: 

Modo de amar – II 

Por-me-ás de borco, 
assim inclinada... 

a nuca a descoberto, 
o corpo em movimento... 

a testa a tocar 
a almofada, 
que os cabelos afloram, 
tempo a tempo... 

Por-me-ás de borco; 
Digo: 
ajoelhada... 

as pernas longas 
firmadas no lençol... 

e não há nada, meu amor, 
já nada, que não façamos como quem consome... 

(Por-me-ás de borco, 
assim inclinada... 

os meus seios pendentes 
nas tuas mãos fechadas.) 

Modo de amar – III 

É bom nadar assim 
em cima do teu corpo 
enquanto tu mergulhas já dentro do meu 

Ambos piscinas que a nado atravessamos 
de costas tu meu amor 
de bruços eu 

Modo de amar – IV 

Encostada de costas 
ao teu peito 

em leque as pernas 
abertas 
o ventre inclinado 

ambos de pé 
formando lentos gestos 

as sombras brandas 
tombadas no soalho 

Modo de amar – V 

Docemente amor 
ainda docemente 

o tacto é pouco 
e curvo sob os lábios 

e se um anel no corpo 
é saliente 
digamos que é da pedra 
em que se rasga 

Opala enorme 
e morna 
tão fremente 

dália suposta 
sob o calor da carne 

lábios cedidos 
de pétalas dormentes 

Louca ametista 
com odores de tarde 

Avidamente amor 
com desespero e calma 

as mãos subindo 
pela cintura dada 
aos dedos puros 
numa aridez de praia 
que a curvam loucos até ao chão da sala 

Ferozmente amor 
com torpidez e raiva 

as ancas descendo como cabras 
tão estreitas e duras 
que desarmam 
a tepidez das minhas 
que se abrem 

E logo os ombros 
descaem 
e os cabelos 

desfalecem as coxas que retomam 
das tuas 
o pecado 
e o vencê-lo 
em cada movimento em que se domam 

Suavemente amor 
agora velozmente 

os rins suspensos 
os pulsos 
e as espáduas 

o ventre erecto 
enquanto vai crescendo 
planta viva entre as minhas nádegas 

Modo de amar – Vl 

Inclina os ombros 
e deixa 
que as minhas mãos avancem 
na branda madeira 

Na densa madeixa do teu ventre 

Deixa 
que te entreabra as pernas 
docemente 

Modo de amar – VII 

Secreto o nó na curva 
do meu espasmo 

E o cume mais claro 
dos joelhos 
que desdobrados jorram dos espelhos 

ou dos teus ombros os meus: 
flancos 
na luz de maio 

Modo de amar – VIII 

Que macias as pernas 
na penumbra 

e as ancas 
subidas 
nos dedos que as desviam 

Entreabro devagar 
a fenda – o fundo 
a febre 
dos meus lábios 

e a tua língua 
Vagarosa: 

toma – morde 
lambe 
essa humidade esguia 

Modo de amar – IX 

Enlaçam as pernas 
as pernas 
e as ancas 

o ar estagnado 
que se estende 
no quarto 

As pernas que se deitam 
ao comprido 
sob as pernas 

E sobre as pernas vencem o gemido 

Flor nascida no vagar do quarto 

Modo de amar – X 

A praia da memória 
a sulcos feita 
a partir da cintura: 

a boca 
os ombros 

na tua mansa língua que caminha 
a abrir-me devagar 
a pouco e pouco 

Globo onde a sede 
se eterniza 
Piscina onde o tempo se desmancha 
a anca repousada 
que inclinas 
as pernas retezadas que levantas 

E logo 
são os dentes que limitam 

mas logo 
estão os labios que adormentam 
no quente retomar de uma saliva 
que me penetra em vácuo 
até ao ventre 

o vínculo do vento 
a vastidão do tempo 

o vício dos dedos 
no cabelo 

E o rigor dos corpos 
que já esquece 
na mais lenta maneira de vencê-los 

Modo de amar – XI 
((Teu) Baixo ventre) 

Nunca adormece a boca no 
teu peito 

a minha boca no teu baixo 
ventre 
a beber devagar o que é 
desfeito 

Modo de amar – XII 
(Os testiculos) 

Tenho nas mãos 
teus testiculos 
e a boca já tão perto 

que deles te sinto 
o vício 
num gosto de vinho aberto 

Modo de amar – XIII 
(As pedras – As pernas) 

São as pedras 
meus seios 
São as pernas 

pele e brandura 
no interior dos 
lábios 

rosa de leite 
que sobe devagar 
na doce pedra 
do muco dos meus lábios 

São as pedras 
meus seios 
São as pernas 

Pêssegos nus corpo 
descascados 

Saliva acesa 
que a língua vai cedendo 

o gozo em cima... 
na pedra dos meus 
lábios 

Jogo do corpo 
a roçar o tempo 
que já passado só se de memória, 
a mão dolente 
como quem masturba entre os joelhos... 
uma longa história... 

Estrada ocupada 
onde se vislumbra 
(joelhos desviados na almofada ) 

assim aberta o fim de que desfruta 
o fruto do odor 
o fundo todo 
do corpo já fechado. 

Modo de amar – XIV 
(As rosas nos joelhos) 

São grinaldas de rosas 
à roda 
dos joelhos 

O âmbar dos teus dentes 
nos sentidos 

O templo da boca 
no côncavo do espelho 
onde o meu corpo espia 
os teus gemidos 

É o gomo depois... 
e em seguida a polpa... 

o penetrar do dedo... 
O punho do punhal 

que na carne enterras 
docemente 
como quem adormenta 
o que é fatal 

É a urze debaixo 
e o fogo que acalenta 
o peixe 
que desliza no umbigo 

piscina funda 
na boca mais sedenta bordada a cuspo 
na pele do umbigo 

E se desdigo a febre 
dos teus olhos 
logo me entrego à febre 
do teu ventre 

que vai vencendo 
as rosas – os escolhos 
à roda dos joelhos, docemente. 

Modo de amar – XV 
(A boca – A rosa) 

Entreabre-se a boca 
na saliva da rosa 

no raso da fenda 
na fissura das pernas 

Entreabre-se a rosa 
na boca que descerra 
no topo do corpo 
a rosa entreaberta 

E prolonga-se a haste 
a língua na fissura 
na boca da rosa 
na caverna das pernas 

que aí se entre-curva 
se afunda 
se perde 

se entreabre a rosa 
entre a boca 
das pétalas

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