loading gif
Loading...

Sinopse

No Livro Primeiro, foram investigados os fenómenos que o processo capitalista de produção, tomado por si, oferece como processo imediato de produção; aí abstraiu-se ainda de todas as influências secundárias sobre ele [operadas] por circunstâncias alheias. Mas este processo imediato de produção não esgota o curso de vida do capital. No mundo real, ele é complementado pelo processo de circulação, e este formou o objecto das investigações do Livro Segundo. Aí se mostrou — nomeadamente, na terceira secção, aquando da consideração do processo de circulação como [processo] da mediação do processo social de reprodução — que o processo capitalista de produção, considerado no [seu] todo, é unidade de processo de produção e de processo de circulação. Neste Livro Terceiro, aquilo de que se trata não pode ser de fazer reflexões gerais acerca dessa unidade. Trata-se antes, de encontrar e de expor as formas concretas que crescem a partir do processo de movimento do capital, considerado como [um] todo. No seu movimento real, os capitais enfrentam-se em formas concretas tais que para elas a figura do capital no processo imediato de produção, tal como a sua figura no processo de circulação, apenas aparecem como momentos particulares. As configurações do capital, tal como as desenvolvemos neste Livro, aproximam-se, portanto, progressivamente, da forma em que elas próprias ocorrem à superfície da sociedade, na acção dos diversos capitais uns sobre os outros, na concorrência e na consciência habitual dos próprios agentes da produção.

Críticas ao livro " O Capital "

Fonte: José Martins

Pouca gente discorda de que, no atual estágio da humanidade, nada é mais concreto e envolvente na vida do que o capital. O ser capital. A coisa vem de longe. Começa como um processo histórico de expropriação humana e a formação dos trabalhadores livres, do trabalho assalariado. Esse processo de dominação, em que o capital acaba determinando todas as atividades e manifestações coletivas da sociedade atual, se desdobra em interação recíproca com um processo de autonomização do capital: oriundo de determinadas condições históricas e materiais, no final do processo, o capital aparece para todos como uma coisa natural e eterna. Como veremos, esse processo é a chave para a definição do que é o capital.

A propriedade privada, a família, a religião, o Estado, a circulação de mercadorias, o mercado, o valor, os preços, o salário, o aluguel, os juros, o lucro ? e tantas outras formas antigas que agora também se realizam e se autonomizam no capital. Alguém ainda duvida de que tudo isso seja muito natural e eterno? Pois é, todas essas criações históricas do desenvolvimento humano desembocam no século 21 congeladas na totalidade do capital como natureza sintetizada e eternizada, um autômato ininterrupto de controle dos mínimos movimentos e pensamentos individuais humanos, eterno presente que se auto-reproduz em monótonas espirais de acumulação de capital.

Mas o que é, afinal, o capital?
Como falar de alguma coisa que nem é chamada pelo próprio nome? Existe economia, mercadoria, dinheiro, moeda, riqueza, empresa, corporação, mercado, mas onde está o capital? Existe empresário, investidor, empreendedor, presidente, diretor, proprietário, acionista, mas onde está o capitalista? Existe economia de mercado, sistema produtor de mercadorias, sistema econômico, iniciativa privada, livre-iniciativa, mas onde está o modo de produção capitalista?

Capital, capitalistas, modo de produção capitalista: a economia política dos capitalistas já aposentou há muito tempo essas categorias ? sem nenhuma explicação. Será possível, porém, sem o entendimento prévio do que é o capital, entender o funcionamento de uma economia nacional, do mercado mundial, da geopolítica internacional, do imperialismo, das crises, das guerras imperialistas, das classes sociais e da revolução? Talvez por ser tão importante para o conhecimento (e transformação) do mundo, o conceito de capital teve que ser banido da linguagem.
Talvez por isso, também, ficou mais difícil esse conceito ser restaurado de uma maneira popular, quer dizer, ?explicado em poucas palavras?. Faremos o melhor possível. Para tanto, serão utilizados dois procedimentos absolutamente imprescindíveis. O primeiro, procurar o objeto apenas com a pessoa certa e no lugar certo. A pessoa certa chama-se Karl Marx. Não foi por acaso que sua principal obra leva o título de O Capital. Também é dele o conceito de capital que ensaiaremos vulgarizar. Não serão pesquisados outros autores ou outras ?leituras de Marx?. No lugar certo, apenas as principais obras econômicas do autor: O Capital (livro 1, 2, 3 e Teorias sobre a Mais-Valia); Grundrisse; Salário, Preço e Lucro; Fragmentos da Versão Primitiva da Contribuição à Crítica da Economia Política; e outras que serão utilizadas posteriormente.

Concluindo, o segundo e não menos importante procedimento da pesquisa: paciência, muita paciência com os conceitos, principalmente no início. Como Marx diz no Prefácio à primeira edição alemã do livro 1 de O Capital: ?Em todas as ciências, o começo é árduo. O primeiro capítulo, principalmente a parte que contém a análise da mercadoria, será então de um entendimento um pouco difícil?.

Ora, é exatamente nesse primeiro capítulo que trilharemos nossos primeiros passos. Portanto, paciência e nada de desânimo. Depois as coisas ficarão muito mais claras e menos difíceis. Acertados esses procedimentos, só nos resta agora desejar a todos uma boa viagem e... mãos a obra.

Nos passos de Marx
Já vimos de passagem que a autonomização do valor, tal como ela se apresenta no capital, é um processo que se desenvolve em interação recíproca com o processo histórico de expropriação humana e a formação dos trabalhadores livres, do trabalho assalariado. Os dois processos ? valor e trabalho assalariado ? constituem as condições recíprocas para o aparecimento do modo de produção capitalista.

Para a definição do capital, todavia, devemos partir de qual desses processos, do valor ou do trabalho assalariado? Marx não tem dúvida a respeito: ?Para desenvolver o conceito de capital, não é necessário partir do trabalho, mas sim do valor, e mais precisamente do valor de troca já desenvolvido no movimento da circulação. É absolutamente impossível passar diretamente do trabalho ao capital, do mesmo modo que das diversas raças humanas ao banqueiro ou, ainda, da natureza à máquina a vapor?. (Grundrisse...).

O valor de troca já desenvolvido na circulação das mercadorias é aquele que aparece na forma do dinheiro. Do ponto de vista histórico, o aparecimento do dinheiro é o momento da dissolução das comunidades primitivas, e o capital é o valor que alcançou a autonomia depois de percorrer as diversas etapas históricas pré-capitalistas. Vejamos então qual é para Marx a definição de capital:
?O dinheiro, forma adequada do valor de troca que resulta da circulação, que se tornou autônomo, mas retorna à circulação e, graças à própria circulação, se perpetua e se valoriza (se multiplica), isso é capital.?? (Fragmentos da Versão Primitiva...).

É só no capital que a autonomia do valor de troca se torna processo, um valor que se valoriza, não uma soma de dinheiro ou de valores de troca, um valor de uso, uma relação social, etc., pois ?o capital, como valor que se valoriza, não implica só relações de classe, ou uma determinada característica baseada na existência do trabalho assalariado. O capital é um movimento, um processo cíclico atravessando diversos estágios e que ele próprio implica por seu lado três formas diferentes do processo cíclico. É por isso que o capital só pode ser compreendido como movimento, e não como uma coisa estática, parada. Quem acha que a autonomização do valor é pura abstração se esquece que o movimento do capital industrial é exatamente essa abstração in actu [?em ação?, ?na prática?]?.(O Capital, Livro II).

A definição dada por Marx para o capital como um movimento, um valor em processo, se liga, portanto, ao processo de autonomização do valor. Este último, antes de desembocar no capital, atravessa diversas etapas que correspondem à circulação simples. Historicamente, essas etapas correspondem à destruição das comunidades primitivas e à sucessão dos modos de produção. A análise da autonomização do valor e da ?gênese da moeda? aparece de uma maneira mais didática em Marx no livro I de O Capital, seção I, no parágrafo intitulado ?Formas do valor?. Veremos tudo isso mais adiante, de maneira detalhada.

Comentários


Ainda não existem comentários para este livro.

Avaliações

miguelreal.pt avaliou com .

Favoritos

Diogo Nogueira adicionou aos favoritos

Outros livros de Karl Marx

Quem gostou deste livro também gostou de:

Voltar

Faça o login na sua conta do Portal