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Sinopse

«Wilde escreveu Salomé; em francês, provavelmente por a querer próxima de belezas já conhecidas em Maeterlinck; mas de certeza porque Sarah Bernhardt lhe pedia desde há muito uma peça sobre a rainha Isabel I, e talvez o dispensasse da encomenda se à sua vista fosse estendida uma irrecusável extravagância luxuosa e orientalista, de bom convívio com os seus gestos largos e as suas tiradas longas. Foram decisivas uma visita à casa do escritor Jean Lorrain — onde viu, pousada numa bandeja, a cabeça de cera que o levou ao mau capricho da fotografia em pose de Salomé—e uma visita aoMoulin Rouge—onde uma bailarina italiana executava, só como torso e o ventre, a dança ideal para a sua peça. […] Só nesta obra dramática de Wilde a linguagem perseguiu o intuito de criar uma atmosfera sensual e sufocante, com um vocabulário caro à “decadência” estética do final do século XIX e que já surgia nalguns passos de Dorian Gray.Wilde espalha sangue, vinho emuitas cores, põe pratas a cintilar na lua, enfeita discursos comtopázios, ónix, sardónicas e calcedónias, que lá se encontram quase sempre como sonoridades reduzidas à sua função de “palavra”, e não para as significações mais profundas que assumem, por exemplo, emMallarmé ouMaeterlinck. A peça desenrola-se sob os raios de uma lua vista por cada personagemcomolhar diferente, e que é reflexo dos seus próprios anseios. As personagens ouvem-se pouco umas às outras, dialogam entre si com os monólogos do seu isolamento carregado de uma nostalgia erótica que procura a beleza e teme amorte.» 
Aníbal Fernandes, na Introdução

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