Sinopse
«O Medo» reúne toda a poesia de Al Berto.
encosta-te à parede
deixa o fluxo da dor circular
por dentro das imagens febris — agarra o feixe
de cordas de ar — vai
pelo rastro das etéreas aves — chama-as
ao jardim imaginado e dá-lhes a beber
as visões de cinza quente
chama a noite e lança dentro dela
a águia dos mares — a flor escura do sangue
transforma-a em navio rompendo
a bruma deste inverno sem memória
deixa o corpo viajar no desalento
essa fonte do inesgotável canto — melancolia
que os remédios não curam
encosta-te à parede
escuta a inesperada mudez do talento
Extras
Excerto
«regressa do túmulo dos mares do sul
enterra os dedos na penumbra que separa o dia
da noite das cidades recorda o restolhar das serpentes
a seiva lívida do loureiro estremecendo ao sentir
o rosto da criança que foste contra o tronco
na tua memória já não existem paisagens de ossos
nem pássaros nem punhais de luz dentro da insónia
a criança que em ti morreu crescendo
usou sapatos com atacadores e gravata
pela primeira vez foi ao cinema sozinha
com o olhar turvo de melancolia anda por aí
à procura de quem a queira»