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A Opinião de Paula Mota


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Gabo e Mercedes, de Rodrigo Garcia

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O meu pai queixava-se de que uma das coisas que mais odiava na morte era o facto de que seria a única faceta da sua vida sobre a qual não poderia escrever. Tudo o que tinha vivido, presenciado e pensado estava nos seus livros, convertido em ficção ou cifrado. “Se podes viver sem escrever, não escrevas”, costumava dizer. Eu estou entre aqueles que não podem viver sem escrever, por isso confio que me perdoaria.

Começando pelo fim, pelos últimos dias de vida de Gabriel García Márquez, esta obra apresenta-se como uma leitura altamente emotiva, particularmente para quem admira este fabuloso escritor e tem noção de como é avassalador uma pessoa sofrer de demência, sobretudo tratando-se de alguém que necessita de uma mente aguçadíssima para exercer o seu ofício.

O meu pai estava plenamente consciente de que a memória se lhe esfumava. Pedia ajuda com insistência, repetindo uma e outra vez que estava a perder a memória. O preço de ver uma pessoa naquele estado de ansiedade e de ter de tolerar as suas intermináveis repetições uma e outra vez é enorme.

Rodrigo García, filho mais novo de Gabriel García Márquez e Mercedes Barcha, um nome que me era desconhecido mas que está ligado a séries de culto da HBO, escreveu esta “bela despedida a duas pessoas extraordinárias”, segundo Salman Rushdie, “um pequeno livro de memórias [que se] lê com um sentimento de profunda gratidão”, acrescenta Juan Gabriel Vásquez. É realmente disso que se trata e, apesar das dúvidas do autor em violar a intimidade de uns pais que sempre lhe incutiram a discrição como um valor, é um livro repleto de afecto, de respeito e de franqueza…

Os meus sentimentos pelo meu pai, se bem que amorosos, foram mais complexos, devido ao facto de a sua fama e talento o terem convertido em várias pessoas diferentes que tive de me esforçar por integrar numa única, ressaltando sempre de um lado para outro entre emoções contrárias. Também tenho sentimentos arrevesados sobre a longa e dolorosa despedida que foi a sua perda de memória, e a culpa de encontrar uma certa satisfação em sentir-me intelectualmente mais capaz do que ele.

…sem nunca perder de vista o bom gosto, o qual se vê inclusive nas fotos da família incluídas no final; uma delas, no entanto, não totalmente isenta de ironia na sua legenda: “Em finais dos anos 60, quando ainda era saudável fumar”, tendo Gabo morrido de cancro dos pulmão ou do fígado e tendo “La Gaba” sido vitimada por problemas respiratórios seis anos depois. E se García Márquez é uma lenda, Mercedes, “uma mulher da sua época, sem estudos universitários, mãe, esposa e dona de casa” é igualmente uma figura mítica.

Perto do final do seu discurso, aliás bastante bom, o presidente mexicano refere-se a nós como “os filhos e a viúva”. […] Revolvo-me na cadeira, com a certeza de que a minha mãe não o verá com bons olhos. (…) As suas últimas palavras a esse respeito são: “No soy la viuda. Yo soy yo”. (Eu não sou a viúva. Eu sou eu.).

Gabo e Mercedes: Uma Despedida, de Rodrigo García, Dom Quixote, Setembro de 2023, Tradução de J. Teixeira de Aguilar

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