Florbela Espanca
Biografia
Florbela de Alma Conceição Espanca (1894-1930) nasceu em Vila Viçosa e faleceu em Matosinhos. Estudou em Évora, onde concluiu em 1917 o curso liceal, matriculando-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. É por essa altura que publica as suas primeiras poesias. Tendo casado várias vezes e tendo sido em todas elas infeliz, começou a consumir estupefacientes. Só depois da sua morte é que a poetisa viria a ser conhecida do grande público, tendo contribuído para isso a publicação de Charneca em Flor (1930) pelo professor italiano Guido Batelli. Na Enciclopédia Larousse, esta poetisa é definida como «parnasiana, de intenso acento erótico feminino, sem precedentes na Literatura Portuguesa. A sua obra lírica, iniciada em 1919, com o Livro das Mágoas, antecipa em seu meio a emancipação literária da mulher».
Livros escritos por Florbela Espanca
Poemas escritos por Florbela Espanca
A Anto!
A Flor do Sonho
A Maior Tortura
A Minha Dor
A Minha Piedade
A Minha Tragédia
A Mulher
A Noite Desce
A Nossa Casa
À Tua Porta Há um Pinheiro Manso
A Tua Voz de Primavera
A um Livro
A Um Moribundo
A uma Rapariga
A Vida
A Voz da Tília
Alma a Sangrar
Alma Perdida
Alvorecer
Amar!
Ambiciosa
Amiga
Angústia
Anoitecer
Anseios
Ao Vento
Aos Olhos Dele
Árvores do Alentejo
As Minhas Ilusões
As Minhas Mãos
Caravelas
Castelã da Tristeza
Cegueira Bendita
Charneca em Flor
Cinzento
Conto de Fadas
Crepúsculo
Crucificada
Da Minha Janela
De Joelhos
Desejos Vãos
Diz-me, Amor, como Te Sou Querida
Dizeres Íntimos
Doce Certeza
Em Busca do Amor
Errante
Escreve-me
Esfinge
Espera...
Eu
Exaltação
Falo de Ti às Pedras das Estradas
Fanatismo
Filtro
Frémito do Meu Corpo a Procurar-te
Frieza
Fumo
Hora que Passa
Horas Rubras
Impossível
Inconstância
Interrogação
Junquilhos
Lágrimas Ocultas
Languidez
Lembrança
Mais Alto
Mais Triste
Maria das Quimeras
Mendiga
Mentiras
Meu Mal
Minha Culpa
Minha Terra
Mistério
Mocidade
Não Ser
Nervos D'Oiro
Neurastenia
Nocturno
Noite de Saudade
Noite Trágica
Noitinha
Nostalgia
O Maior Bem
O Meu Condão
O Meu Orgulho
O Meu Soneto
O Nosso Livro
O Nosso Mundo
O Que Alguém Disse
O Que Tu És...
O Teu Olhar
Ódio?
Os Meus Versos
Os Versos que Te Fiz
Outunal
Panteísmo
Para Quê?!
Passeio ao Campo
Pequenina
Perdi os Meus Fantásticos Castelos
Pior Velhice
Prince Charmant
Princesa Desalento
Que Importa?...
Quem Sabe?...
Quem?
Realidade
Renúncia
Ruínas
Rústica
Saudades
Se Tu Viesses Ver-me...
Sem Palavras
Sem Remédio
Ser Poeta
Sol Poente
Sombra
Sou Eu!
Suavidade
Súplica
Supremo Enleio
Tarde Demais...
Tarde no Mar
Tédio
Teus Olhos
Toda a noite o rouxinol chorou
Toledo
Torre de Névoa
Tortura
Trazes-me em Tuas Mãos de Vitorioso
Vaidade
Velhinha
Versos
Versos de Orgulho
Volúpia
Vídeos de Florbela Espanca
Diversos
Uma Mulher sem Areia Nenhuma
Tenho o santo horror da frieza calculada, da boa educação, do prudente juízo duma mulher. Aos homens pertence tudo isso, e a mulher deve ser muito feminina, muito espontânea, muito cheia de pequeninos nadas que encantem e que embalem. Meu amigo, se esperas ter uma mulher sem areia nenhuma, morres de aborrecimento e de frio ao pé dela e não será com certeza ao pé de mim...Comigo hás-de ter sempre que pensar e que fazer. Hás-de rir das minhas tolices, hás-de ralhar quando elas passarem a disparates (hão-de ser pequeninos...) e hás-de gostar mais de mim assim, do que se eu fosse a própria deusa Minerva com todo o juízo que todos os deuses lhe deram.
Fonte: "Correspondência (1920)"
Correspondência (1920)
Tenho saudades da carícia dos teus braços, dos teus braços fortes, dos teus braços carinhosos que me apertam e que me embalam nas horas alegres, nas horas tristes. Tenho saudades dos teus beijos, dos nossos grandes beijos que me entontecem e me dão vontade de chorar. Tenho saudades das tuas mãos (...) Tenho saudades da seda amarela tão leve, tão suave, como se o sol andasse sobre o teu cabelo, a polvilhá-lo de oiro. Minha linda seda loira, como eu tenho vontade de te desfiar entre os meus dedos! Tu tens-me feito feliz, como eu nunca tivera esperanças de o ser. Se um dia alguém se julgar com direitos a perguntar-te o que fizeste de mim e da minha vida, tu dize-lhe, meu amor, que fizeste de mim uma mulher e da minha vida um sonho bom; podes dizer seja a quem for, a meu pai como a meu irmão, que eu nunca tive ninguém que olhasse para mim como tu olhas, que desde criança me abandonaram moralmente que fui sempre a isolada que no meio de toda a gente é mais isolada ainda. Podes dizer-lhe que eu tenho o direito de fazer da minha vida o que eu quiser, que até poderia fazer dela o farrapo com que se varrem as ruas, mas que tu fizeste dela alguma coisa de bom, de nobre e de útil, como nunca ninguém tinha pensado fazer. Sinto-me nos teus braços defendida contra toda a gente e já não tenho medo que toda a lama deste mundo me toque sequer.